REFLEXÕES

07/12/2014 17:52

 

O que diria à moça que fui

            Geni Oliveira

 

            Pensei que quando eu ficasse mais velha, seria mais sábia. Cada vez tenho mais perguntas do que respostas. O que dizer a alguém tão jovem e com tantos sonhos? Eu te vejo tão inquieta, com tantos ideais, realizando o sonho de ser professora. Teu pai orgulhoso  tenta esconder uma lágrima, quando a medalha de 1º lugar no Curso Normal é colocada em teu peito pela diretora da escola.

            É só o começo. Mas não desanima, mesmo que os alunos não sejam os que idealizaste, mesmo que te doa o estômago pela timidez que precisa ser vencida a qualquer custo. Eles acreditam em ti. Pensa muito antes de criticar, de repreender. Talvez esqueçam que foi contigo que aprenderam a tabuada, a escrever redações, mas lembrarão do teu sorriso encorajador. Luta por dignidade, por reconhecimento da profissão que escolheste, mas não esqueças que os alunos merecem o melhor de ti. E que, para muitos, és o exemplo de que tanto precisam.

            Coragem, amiga. Vais precisar.  A vida não é linear. Ela se apresenta de forma cíclica e com muitos obstáculos. O que não der para ultrapassar, contorna como fazem os rios no seu percurso.

            Por mais que te decepciones, não desistas de amar. Sempre resta algo bom de uma relação amorosa. Se quiseres ser mãe, saibas que não é fácil, mas vale a pena. Cada nascimento é um milagre e a cumplicidade do olhar entre mãe e filho é indescritível. Perde-se a noção de tempo e de espaço. E, por mais efêmera que seja a vida de um filho, ficará a doce lembrança dos momentos vividos.  

            Não exijas demais de ti e não te culpes tanto. És responsável pelos teus atos, mas não tens o controle de nada. Se tiveres que mudar o rumo, vai em frente. Sejas peregrina e não apenas mais uma passageira neste planeta que tanto te oferece. E volta a escrever, como fazias na adolescência. Por mais dolorido que seja, mesmo que nem sempre encontres  palavras que traduzam o que sentes,  vale a pena, acredita em mim.

            És inteligente, sensível, linda, apesar de não te sentires assim. A baixa autoestima faz com que tenhas uma imagem distorcida de ti. Despe-te dos rótulos que recebeste ao longo da vida.

            O roteiro da tua vida é escrito dia a dia. Capricha nas falas, no figurino, no cenário. Nem sempre serás a heroína. Se necessário, sai de cena com elegância.

            Terás perdas, com certeza. Ao lidar com elas, ficarás mais forte. Na arrogância dos teus vinte anos, talvez não leves a sério o que te digo. Achas que sabes muito sobre a vida. Faço minhas as palavras de Riobaldo, personagem do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa:

            Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.

 

 

 

 

Novidades

Divulgando

15/05/2019 17:03
  https://www.artistasgauchos.com/escritacriativa/?cid=5419&wd=Reflex%F5es https://cadernosdamariarosa.blogspot.com/ https://www.facebook.com/groups/554004151473877/?ref=bookmarks

CONTOS DIMINUTOS

13/05/2019 19:38
Vergonha Geni Oliveira Fazia muito frio e,  para piorar, chovia. No corredor de ônibus,  um homem pela metade, com o que lhe restava enrolado em plástico, aguardava. Não sei bem o quê. Se um ônibus, uma esmola, um olhar. Ele estava bem agasalhado, com uma jaqueta de náilon e tinha uma...

REFLEXÕES

07/12/2014 17:52
  O que diria à moça que fui             Geni Oliveira               Pensei que quando eu ficasse mais velha, seria mais sábia. Cada vez tenho mais perguntas do que respostas. O...

GIGI E JUJU

20/04/2014 19:56
  Gigi Geni Oliveira           Gigi era uma barata muito inteligente. Vivia com suas dez filhas ainda pequenas no porão de um sobrado. Simpática e persistente sempre dava um jeito de conseguir comida. Sabia exatamente aonde ir para variar o...

A MORTE COMO PARTE DA VIDA

22/07/2011 18:49
Kevin Geni Oliveira Quando faço brincadeiras com meu gato,  pergunto-me se ele não se diverte mais comigo  do que eu com ele. (Michel de Montaigne)       31 de julho de 2010. Esse foi o dia em que o Kevin morreu. Do seu nascimento sei apenas que nasceu em...

A MISÉRIA QUE NOS RONDA

06/07/2011 12:40
Apenas um relato Geni Oliveira     - Sereninho, sereninho! Se fizerem o que eu digo, ninguém se machuca. Motorista, fica calmo. Não liga o pisca! Cena de filme. Luzes coloridas desfilavam vertiginosamente pela janela do lotação, buzinas de motoristas apressados, ultrapassagens...

ALGUNS POEMAS

09/06/2011 22:55
À meia-luz Geni Oliveira   Em teus braços, perco a noção de tempo e de espaço.  Tua respiração ofegante, tuas mãos afoitas explorando a geografia do meu corpo, no ritmo alucinante da dança, me enlouquecem. Nossos olhares se cruzam, nossas línguas famintas  se buscam às vésperas de um...

OUTRAS HISTÓRIAS

01/06/2011 19:45
     Aprendiz Geni Oliveira        Eu nunca soube definir felicidade. Acho muito complexo esse sentimento. A vida é feita de momentos, alguns especiais. Experimentei uma emoção indescritível quando nasceram meus filhos. As palavras pareceriam vazias. A felicidade...

CONTOS E CRÔNICAS

01/06/2011 19:19
  A porta- Primeira Parte Hoje eu fui tratada como suspeita na porta de um banco. Tive que me despojar do celular, das chaves, dos estojos dos óculos de sol e de leitura, da niqueleira. Fui e voltei várias vezes, numa coreografia não ensaiada. As pessoas atrás de mim já me olhavam com certa...