REFLEXÕES
O que diria à moça que fui
Geni Oliveira
Pensei que quando eu ficasse mais velha, seria mais sábia. Cada vez tenho mais perguntas do que respostas. O que dizer a alguém tão jovem e com tantos sonhos? Eu te vejo tão inquieta, com tantos ideais, realizando o sonho de ser professora. Teu pai orgulhoso tenta esconder uma lágrima, quando a medalha de 1º lugar no Curso Normal é colocada em teu peito pela diretora da escola.
É só o começo. Mas não desanima, mesmo que os alunos não sejam os que idealizaste, mesmo que te doa o estômago pela timidez que precisa ser vencida a qualquer custo. Eles acreditam em ti. Pensa muito antes de criticar, de repreender. Talvez esqueçam que foi contigo que aprenderam a tabuada, a escrever redações, mas lembrarão do teu sorriso encorajador. Luta por dignidade, por reconhecimento da profissão que escolheste, mas não esqueças que os alunos merecem o melhor de ti. E que, para muitos, és o exemplo de que tanto precisam.
Coragem, amiga. Vais precisar. A vida não é linear. Ela se apresenta de forma cíclica e com muitos obstáculos. O que não der para ultrapassar, contorna como fazem os rios no seu percurso.
Por mais que te decepciones, não desistas de amar. Sempre resta algo bom de uma relação amorosa. Se quiseres ser mãe, saibas que não é fácil, mas vale a pena. Cada nascimento é um milagre e a cumplicidade do olhar entre mãe e filho é indescritível. Perde-se a noção de tempo e de espaço. E, por mais efêmera que seja a vida de um filho, ficará a doce lembrança dos momentos vividos.
Não exijas demais de ti e não te culpes tanto. És responsável pelos teus atos, mas não tens o controle de nada. Se tiveres que mudar o rumo, vai em frente. Sejas peregrina e não apenas mais uma passageira neste planeta que tanto te oferece. E volta a escrever, como fazias na adolescência. Por mais dolorido que seja, mesmo que nem sempre encontres palavras que traduzam o que sentes, vale a pena, acredita em mim.
És inteligente, sensível, linda, apesar de não te sentires assim. A baixa autoestima faz com que tenhas uma imagem distorcida de ti. Despe-te dos rótulos que recebeste ao longo da vida.
O roteiro da tua vida é escrito dia a dia. Capricha nas falas, no figurino, no cenário. Nem sempre serás a heroína. Se necessário, sai de cena com elegância.
Terás perdas, com certeza. Ao lidar com elas, ficarás mais forte. Na arrogância dos teus vinte anos, talvez não leves a sério o que te digo. Achas que sabes muito sobre a vida. Faço minhas as palavras de Riobaldo, personagem do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa:
Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver mesmo.