GIGI E JUJU

20/04/2014 19:56

 

Gigi

Geni Oliveira

 

        Gigi era uma barata muito inteligente. Vivia com suas dez filhas ainda pequenas no porão de um sobrado. Simpática e persistente sempre dava um jeito de conseguir comida. Sabia exatamente aonde ir para variar o cardápio. Preferia casas onde havia crianças ou animais onde ninguém ousaria colocar veneno em comida. Suas filhas queriam ir com ela explorar outros mundos. Mãe extremamente protetora, Gigi não permitia. As filhas faziam greve de fome, reclamavam, mas de nada adiantava.  

    Numa noite quente de verão, Gigi espiou pela janela de um apartamento. Um jovem casal brindava com espumante. Olhos nos olhos, mãos passeando pelos corpos suados. Momento ideal para Gigi. Viu um pedaço de doce amarelo- ouro cintilando no tapete. Teve vontade de prová-lo, mas não o fez. Levou-o para as filhas. Não via a hora de ver a alegria delas.

    Quando Gigi chegou em casa, elas puseram-se a correr faceiras, abraçaram a mãe e logo começaram a comer o doce. Exausta a barata-mãe  foi dormir.

    Ao acordar, ela estranhou o silêncio. Ouvia-se até mesmo uma velha torneira pingando. Procurou pelas filhas nos cantos, chamou-as e nenhuma apareceu. De repente as viu e levou um susto. Suas amadas filhas estavam enfileiradas e de barriga para cima. Posição fatal para as baratas.

    Gigi foi perdendo a vontade de comer. Arrastava-se naquele porão-túmulo, cada vez mais fraca, o olhar perdido e ali permaneceu sozinha e triste pelo resto de sua vida.

 

Juju

Geni Oliveira

    Juju era uma barata muito inteligente. Sempre escapulia do chinelo. Às vezes prendia-se no fundo do fogão. Outras vezes ficava ao lado do armário. Até na parte interna da tampa do vaso sanitário já a encontrei.    

    Apesar de ser bastante acessível, essa baratinha atrevida viveu na minha casa por quase uma semana. Quando finalmente consegui encurralá-la num canto, ela me olhou de um jeito meigo, mexendo as antenas como se me pedisse clemência. Não tive coragem de matá-la. Apenas a espantei.

    Fiquei na porta observando-a. Ela seguiu faceira pela rua à procura de outra casa para se hospedar.