ALGUNS POEMAS

09/06/2011 22:55

À meia-luz

Geni Oliveira

 

Em teus braços,

perco a noção de tempo e de espaço.

 Tua respiração ofegante,

tuas mãos afoitas

explorando a geografia do meu corpo,

no ritmo alucinante da dança,

me enlouquecem.

Nossos olhares se cruzam,

nossas línguas famintas  se buscam

às vésperas de um beijo.

Corpo aprisionado,

alma liberta.

Sou tua.

(Poema publicado no Almanaque Gaúcho- ZH, em 20/12/2014)

 

Circulando nos ônibus e no trem em Porto Alegre.

 

 

 

 

  Ilusão

Geni Oliveira

 

A Morte

acena

sorri

seduz.

 

Perco o prumo

o fôlego

disfarço

aligeiro o passo.

 

E ela me abraça

amorosa

na próxima curva.

 

 

 

Insight

Geni Oliveira

 

Fui traída,

re - traíída.

Estaria eu distraída?

   

A gentileza dos cegosO poeta lê versos para os cegos.
Não previa que fosse tão difícil.
Treme sua voz.
Tremem suas mãos.
Sente que cada frase
está aqui sujeita à prova da escuridão.
Precisará dar conta do recado sozinho,
sem luzes e cores.
Aventura perigosa
para as estrelas dos seus versos,
para a aurora, o arco-íris, as nuvens, os neons, a lua,
para o peixe tão prateado debaixo d’água
e o gavião tão silencioso, alto no céu.
Lê — pois já é tarde demais para não ler —
sobre o menino de casaco amarelo no campo verde,
sobre telhados vermelhos a se contar no vale,
sobre números agitados nas camisas dos jogadores
e a desconhecida nua na fresta da porta.
Gostaria de omitir — embora seja impossível—
todos estes santos no teto da catedral,
este aceno de despedida pela janela do vagão,
a lente do microscópio, o brilho do anel,
as telas de cinema, os espelhos, o álbum de retratos.
Mas é imensa a gentileza dos cegos,
imensa a sua compreensão, a sua grandeza.
Escutam, sorriem e aplaudem.
Um deles até se aproxima
com o livro aberto ao contrário
pedindo um autógrafo inv

Wislawa Szymborska

    

Delírios

Geni Oliveira

 

O rio desce a montanha

vagarosamente

à procura do mar.

Serpenteia, serpenteia

preguiçoso

tentando fugir

do seu destino fatal.

 

Á beira do abismo,

a mulher vacila

Revê  sua vida

tão sofrida, tão inútil.

Lança no espaço

o seu desespero.

 

Silencioso grito de socorro.

  Geni Oliveira

 

Descompasso

Geni  Oliveira

 

O canto guarani invade a rua

num ritmo cadenciado.

Presente roubado! 

 

 

Mergulhei no fundo do poço

Desespero

Desamor

Juntei ospedaços

E ergui-me reinventada 

Fênix

Disposta a viver.

 

 

Entrega

Geni Oliveira

 

Somos

quando  sós

tão  inteiros .

E, quando juntos,

tão nós.